sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

All eyes on me.

Final de ano foi um tanto quanto tumultuado. Um Natal para ser esquecido – como eu acabei nomeando – mas sobre o qual eu pretendo escrever em outro momento. 2016 chegou e eu mal senti. Lá se vai quase um mês dos fogos e do estouro do champagne, e eu totalmente ausente por aqui. Venho querendo sentar para escrever, mas não conseguia sair da inércia por nada. Aí esses dias eu tive o empurrão que eu precisava. De todas as coisas que me inspiram, situações de tensão estão no topo do ranking. Toda vez que eu vivo um momento desse tipo, fico ruminando dentro de mim cada coisa que eu devia ter feito ou falado naquela hora, mas não consegui em função do nervosismo. Ou algo que não fiz porque não seria educado, mas que teria sido libertador se eu tivesse culhões para mandar a política da boa vizinhança passear. E aí escrever vira o meu escape, a minha forma de desabafo, uma maneira de repensar e reler o que aconteceu, e quem sabe descobrir se havia algo que eu poderia ter feito diferente.
Respectivo esteve de aniversário essa semana (congrats again, my love). Como não poderia deixar de ser, planejamos uma festinha em casa com alguns amigos para celebrar seus 32 anos de vida. E na noite anterior combinamos de ir ao mercado comprar as coisas. Saí do trabalho, busquei o pequeno na creche e lá a epopeia teve início. Pequeno estava sentado brincando na salinha que fica logo na entrada na creche, lugar que costuma estar todo dia quando vou buscá-lo. Geralmente ele me vê, abre o sorriso mais lindo e rasgado do mundo e vem correndo. Nesse dia em especial, ele estava compenetrado brincando. Com um pote e uma colher na mão, fingia comer com direito a mastigar uma refeição invisível. Coisa mais fofa. Ele me viu, não esboçou nenhuma reação e voltou para a sua colher. Depois de uns cinco minutos ali parada, convidei ele para ir embora. Nada. Repeti o convite várias vezes. E ele várias vezes nada para mim. Já era tarde, restava apenas ele e outro pequeno na creche, e nós precisávamos ir embora. Resolvi entrar sutilmente no espaço dele, pegá-lo no colo para enfim ir embora. No mesmo momento a choradeira começou. Expliquei para um pequeno aos prantos se debatendo no meu colo que era hora de ir, mas que ele podia pedir emprestada a colher e o potinho para a tia da creche. Ela gentilmente me entregou e ele se acalmou. Saímos tranquilos a caminho do mercado. Chegando lá, coloquei-o no carrinho de compras com assento para bebês e fui aos afazeres. No momento em que chegamos no setor de hortifruti, meu inferno pessoal começou. Ele viu os cachos de bananas pendurados, soltou um “ba” e ficou apontando até eu lhe entregar uma. Só que ele não queria simplesmente segurar, ele queria comer. Para isso, eu precisava pelo menos pesá-la. E lá fomos nós aos berros até a balança pesar as bananas para que eu pudesse enfim entregar-lhe e satisfazer seu desejo. A choradeira foi tal a ponto do funcionário que pesava as frutas comentar “esse tem vontade, hein?!”. Banana entregue, de volta à calmaria. Que só durou o tempo que a boca dele esteve ocupada com a dita cuja. Dali para frente, todo o trajeto – colocar as compras no carrinho, depois na esteira do caixa, empacotar, colocar de volta no carrinho, sair do mercado – foi feito sob protestos dele. Alternando entre choramingar baixinho, ficar quieto por brevíssimos momentos e chorar alto usando toda a capacidade dos seus pequenos pulmões. E assim eu posso resumir os poucos mais de 60 minutos – os quais na verdade pareceram durar uma enternidade – que eu passei no mercado: empurrando no carrinho uma choradeira ambulante sob um mundo de olhos julgadores.
A você que estava naquela noite naquele mercado e presenciou essa minha breve tragédia: minhas sinceras desculpas. Eu não queria que meu filho estivesse chorando. Acredite, se o choro dele estava incomodando você, estava me incomodando mil vezes mais. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Ele não estava sendo maltratado, torturado, passando fome ou algo do gênero. Ele simplesmente estava frustrado porque ele não queria estar lá. Ele queria estar sentadinho na creche brincando de comer, de onde eu não deveria sequer ter tirado ele para início de conversa. Ele foi privado sem aviso prévio do seu momento de diversão para me acompanhar numa tarefa que nem eu gosto de fazer. Meu pequeno é ativo, gosta de andar, correr, explorar. Se tem uma coisa que ele não gosta é de ficar sentado quietinho. Aliás, raras são as vezes que eu vejo ele assim, sentado quietinho. Mas entenda, se eu tivesse feito a vontade dele, tirado ele do carrinho e deixado ele correr pelos corredores do mercado, eu teria levado no mínimo dez vezes mais tempo para terminar as compras. Só que eu tinha um horário para cumprir e por isso tive que deixar meu filho frustrado. Tudo que eu pude fazer foi tentar distrai-lo com o que havia disponível no momento e, quando mais nada funcionou, respirar fundo, encontrar a minha paz interior e aceitar a situação sem perder a calma.
A você que me olhou torto, ao senhor que estendeu a mão fazendo gracinhas pro meu pequeno falando “que bebêzinho mais chorão”, ao moço da balança que foi contundente ao enfatizar o temperamento do meu pequeno, ao caixa e à empacotadora que fingiram não estar rindo no único momento que eu consegui levantar os olhos para pagar a conta, eu tenho apenas um pedido: na próxima vez que isso acontecer, façam o seu melhor esforço para ignorar aquele bebê choroso. Seja ele o meu pequeno ou qualquer outro. Eu posso seguramente lhe garantir, seja qual mãe que for, ela estará se sentindo péssima com aquela situação. Ela estará querendo se enfiar num buraco e sumir, ou querendo chorar junto com a sua cria, ou respirando até os confins do seu pulmão para ter a paciência que aquele momento exige. E o seu comentário ou a sua brincadeirinha provavelmente não vão ajudar em nada, muito menos fazer o bebê parar de chorar. O que nós precisamos, e que vai de fato nos ajudar a enfrentar a pressão daquele momento difícil, é do seu poder de abstração. Finja que não nos viu, olhe para o outro lado e continue com a sua vida. Tente não transparecer no seu rosto o seu pensamento reprovador de que seus filhos não eram, não são ou não serão assim. Eu não sou você, e meu filho não é o seu. Acredite, bebês choram e 99,99% das mães e pais estão fazendo seu melhor para que isso não aconteça ou, para quando acontecer, que pare o quanto antes.
Ao meu pequeno, minhas sinceras desculpas. Eu teria te deixado brincando se eu pudesse, mas a gente nem sempre pode fazer o que quer. Nem sempre os momentos são feitos de brincadeiras e diversão. Muitas vezes você terá que enfrentar a frustração de estar em algum lugar que você não gostaria de estar ou fazendo algo que você não gostaria de fazer. Eu estarei ao seu lado sempre que eu puder amenizando o que eu puder, mas não poderei te livrar totalmente dessas situações. Faz parte da vida. E se a sua saída hoje e pelos próximos meses (quero acreditar otimista que serão apenas meses e não anos..) é chorar, te prometo fazer o meu melhor para ignorar o mundo, ignorar olhares acusadores e o sentimento de vergonha que estará tomando conta de mim e me concentrar apenas em você. Te prometo fazer o meu melhor para respirar fundo e acolher a tua frustração sem perder a calma.
Às mães e bebês para quem um dia eu olhei torto, eu sinto muito. Hoje eu entendo o quanto eu fui indelicada. E às outras mães que se pegam tendo que lidar publicamente com um bebê choroso, prometo que farei meu melhor esforço para seguir meu caminho e cuidar da minha própria vida, enquanto internamente te ergo minha mão em high five dizendo “Tamo junto!”.
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/410038741047364266/

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